retrovisor

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domingo, 30 de outubro de 2011

APRENDENDO COM AS TRILHAS

                                                

      Certa vez fomos até a “pedra explodida” na serra de cocais, Vale do Aço. É um lugar lindo que tem pedras enormes no meio de uma grande área gramada, uma destas pedras parece que foi explodida, criando uma caverna fantástica, é uma enorme “laje” em balanço... Uma verdadeira obra de engenharia das mais ousadas que eu já vi.


Estávamos eu, o Luiz e o Beto. Sempre que íamos até lá deixávamos as motos na parte baixa e subíamos até a caverna a pé. Porem desta vez o “SR Luiz” inventou de subir pela lateral da grande caverna, o Beto foi atrás e a “SRA Solange” mesmo vendo que era hiper difícil foi correndo atrás deles. Era um trilho estreitíssimo com um barranco ao lado e pedras do outro. O Luiz sumiu lá pra cima, o Beto também, e eu continuei. De repente eu vejo o Beto voltando com o Luiz logo atrás e eu? Bem no meio do caminho sem conseguir virar a moto. Eu entrei em pânico, todos querendo descer e eu ali empatando... Foi um verdadeiro congestionamento no meio do mato. O Beto teve que parar a moto dele, pegar a minha e virá-la,  pois eu não conseguia fazer isto naquele trilho tão estreito e descê-la para então voltar e tirar a dele para o Luiz conseguir descer.
      Foi neste dia que eu entendi o ditado: “Galinha que acompanha pato morre afogado”.     

REFLEXÕES


Estou com o braço quebrado... Mas não foi um tombo de moto, para espanto de todos os que sabem que faço trilha de moto.
Eu o quebrei fazendo uma corridinha boba de aquecimento para uma aula de circo.  Caí de mau jeito e fraturei o úmero esquerdo, o osso do braço, bem juntinho do ombro. Vou ficar de molho e não sei por quanto tempo ficarei sem poder pilotar.
Antes deste pequeno, mas desastroso, acidente eu estava com muito de medo de sair de moto e inclusive deixamos de sair varias vezes, pois eu dava a desculpa que a poeira estava demais e que não estava prazeroso. Dizia que precisávamos esperar uma chuvinha para a poeira baixar, e assim eu ia enrolando e mais um fim de semana passava.
Eu andava meio preocupada e realmente com medo de um acidente ou de uma queda. Era medo de me machucar ou medo que o Luiz se machucasse.
Depois de um acidente deste muitas reflexões surgem... 
Eu não me convenci como muitos queriam que se eu quebrei um osso numa quedinha boba desta... Imagine em uma queda de moto?
Ao contrario do que todos queriam, eu pensei que se em quase 10 anos de pilotagem com algumas quedas eu não quebrei nada, nem uma unha, só uns pequenos hematomas, graças é claro, aos equipamentos de segurança e muito cuidado e atenção. Por que, então ter medo de pilotar e fazer as trilhas? Para se machucar ou se acidentar uma corridinha banal é suficiente.

Por ficar de molho sem poder sair para nossas trilhas por vários fins de semana, eu deixei de sentir a sensação indescritível de liberdade que pilotar uma moto proporciona, eu deixei de namorar meu maridinho e companheiro em um restaurante pequeno e tranqüilo com comida caseira, de uma cidadezinha do interior, à luz de velas e ao som de um violeiro regional, desconhecido, mas que conhece como ninguém as cantigas e a vida do caipira. Deixei de ver as cachoeiras, os rios e os riachos que tanto me encantam. Perdi a oportunidade de conversar com gente simples e encabulada de vocabulário restrito, mas de muita sabedoria e conhecimento da vida. Gente tranqüila, sem pressa para falar o que pensa ou para contar um “causo”. Gente de bem com a vida, alegre e acolhedora. Deixei de ouvir, em nossas paradas o canto dos pássaros, o vento assoviando por entre as arvores, o ruído constante das cachoeiras e corredeiras e até o zumbido do mosquito no silêncio da tarde. Deixei de sentir a sensação maravilhosa de pousar e descansar depois de um dia de aventuras e muito cansaço em uma cama limpa e macia, depois de um banho quente em uma pousadinha ou um belo hotel, não importa, por onde passamos. Deixei de passear, conhecer novos lugares e de voltar para casa, relaxada e tranqüila no domingo à tarde, para o aconchego do nosso lar e para junto de nossas filhas queridas.
Mas o principal... Deixei de encarar novos desafios e deixei de desafiar meus medos.
Estou ansiosa para voltar para as trilhas e pensando como já havia falado antes um buraco na pista pode me jogar no chão, sim, mas o medo de que cair neste buraco com certeza me jogará no chão.  Que com responsabilidade e os devidos cuidados devemos aproveitar a vida e tirar dela o que ela nos oferece de melhor sem culpa sem medo.